Especial: Kuala Lumpur

Por Luiz Gustavo Freire

Vou começar do começo. Há dois dias antes da viagem, não sabíamos se iríamos a Kuala Lumpur. Estava tudo certo, mas no dia que compraríamos as passagens de ônibus, uma colega cingapuriana da classe do Menezes lhe confidenciou que durante essa época do ano a Malásia costuma ficar completamente alagada.

Eu explico, o clima dessa região é conhecido como equatorial de monções. Não existem diferenças entre o inverno e o verão em termos de temperatura, e nesse caso a identificação de estações se dá através dos índices pluviométricos registrados. De novembro a fevereiro, aproximadamente, chove muito, enquanto de maio a setembro é uma grande época de seca.

Em Cingapura, os efeitos das tempestades no verão são quase nulos. Já na Malásia, as cicatrizes dos temporais são mais severas, e vão além de adiar jogos de futebol ou aumentar o trânsito nas ruas. As enchentes atingirem com força as terras malaias, e só se via isso nos noticiários, mesmo com o aniversário de 10 anos da tsunami que assombrou o mundo ou com o incidente do avião da Air Asia.

Pois bem, os aventureiros eram eu, o Menezes, a Marie, o Ramzi e a Marion (dois franceses que conhecemos no yoha@Henderson), e o tempo estava correndo. O grupo estava dividido, metade dos viajantes queria ir, e a outra achava mais prudente esperar uma semana e pesquisar com calma a situação malaia. Eu não queria esperar, são tantos lugares para conhecer no sudeste asiático que um final de semana a menos poderia fazer toda a diferença, no entanto não sou louco a ponto de me arriscar nesse nível.

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Enchentes punindo gravemente o povo malaio.

Fui atrás de uma opinião adicional, de alguém que não fosse um intercambista, ou uma mina maligna que quase acabou com a nossa viagem e que sequer conheço, de alguém que conheça região. Contactei imediatamente o Bryan, e o perguntei se esses incidentes poderiam ser um obstáculo para nós. Não estava preocupado com Kuala Lumpur, mas sim com o caminho que faríamos até chegar lá (com uma pesquisada de 5 minutos no Google, já sabia que KL estava livre das enchentes). Por sorte, recebi uma resposta positiva. Segundo ele, as enchentes inundavam cidades mais ao norte do país, e que uma viagem de ônibus de Cingapura a Kuala Lumpur não deveria ser um problema. Depois disso foi fácil convencer todos a viajar, e quinta-feira às 17h estávamos a caminho da cidade do Coala.

Um detalhe interessante e curioso que não pude deixar de notar logo na imigração malaia e que ligou um alerta em minha mente “Você não está mais em Cingapura!”. Após ultrapassarmos a fronteira cingapuriana, ainda na zona neutra em direção à fronteira da Malásia, as pessoas literalmente saíram correndo. Não sabíamos por que e para onde iam, mas todas tinham uma direção em comum. Aquilo foi bem engraçado. Se o cenário fosse alguma praia do Guarujá e todo mundo gritasse: “Arrastão, Arrastão!!!!”, a cena seria a mesma. Todos ali corriam com gosto, como se fosse uma prova de 100 metros rasos valendo ouro olímpico. Mulheres grávidas, família com criança pequena e carrinho de bebe, idosos e tudo mais, todos a mil por hora.

100m rasos
Malaios correndo para entrar em seu país o mais rápido possível. Pode-se observar na imagem acima que o rapaz do guichê 7 ganhou alguns milésimos de segundo com relação aos seus conterrâneos, ele provavelmente migrará primeiro na Malásia.

Descobri que eles corriam para a fila da imigração malaia. Realmente ela estava bem grande, mas esperamos somente de 5 a 10 minutos. Eu chuto que nos finais de semana aquela fila fica gigante, mas naquele momento não vi nenhuma razão para a correria, somente motivos para dar boas risadas.

Já o hostel em KL provou ser um abrigo de qualidade, com camas confortáveis, grande localização e um staff muito atencioso, além de que os hóspedes eram backpackers com muita personalidade, legais e cheios de dicas. Ali eu aprendi um pouco mais sobre o que é ser um mochileiro, vocês podem ter certeza.

A Malásia é um lugar barato, mas sem milagres. Eu digo, não será possível observar grandes negócios em redes mundialmente conhecidas, mas em lojas locais e regionais o papo é diferente. Como olhar não arranca pedaço, visitamos um desses shoppings que pelo jeito somente algum sheik dono de muitos poços de petróleo tem grana para encarar, e avistei a uns 30 metros a minha esquerda um stand da Fórmula 1. Pronto, comprei. Tão rápido quanto uma Mercedes no campeonato passado. Para quem me conhece, vocês já sabem o quão fissurado eu sou por F1, e quando vi o preço lá em baixo não pensei duas vezes. Vejo-os no grande prêmio da Malásia, se Deus quiser com uma vitória do Felipe Massa. Mas só se Deus quiser mesmo, porque sem uma ajudinha divina não vai não.

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Esse cara é um sinônimo de garra, vontade e perseverança. Conhecido por sua ousadia e alegria, ele conquistou uma verdadeira gama de fãs e atualmente possui perspectivas maravilhosas para o futuro. Já o da direita é Lewis Hamilton, piloto da Mercedes.

Sinto que consegui cobrir as maiores atrações de Kuala Lumpur em um final de semana, porém não sei se seria tão eficaz sem algumas ferramentas. Venho programando o roteiro das viagens através dos aplicativos “Triposo” e “TripAdvisor”. Super recomendo o download desses apps se você, caro leitor, for viajar para qualquer lugar. Ambos possuem um localizador com mapas e direções, tudo isso off-line, além de sugestões para eventos, shoppings, restaurantes, tours, city walks e muito mais. O meu predileto é o “Triposo”, reconheço que ele é bem pesado, mas é de assustar a quantidade de informação que ele é capaz de armazenar.

Começamos a excursão pelas Petronas Towers.

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Construídas em 1998, as Petronas Towers foram os maiores arranha-céus da terra até 2003.

São as maiores torres gêmeas do mundo, e estão entre as 6 estruturas mais altas da terra. Assim como o Marina Bay Sands de Cingapura, os prédios são cobertos por uma magia indescritível, que lhe transmite uma sensação única, tão singular a ponto de não senti-la por outros arranha-céus como os de Nova Iorque, por exemplo. É uma arquitetura moderna, sensível e grandiosa ao mesmo tempo. É de arrepiar e arrancar sorrisos naturais e sinceros, daqueles que nascem e se reproduzem sem a menor razão. Foi uma alegria real ver esses edifícios de perto. Uma curiosidade interessante foi a maneira com que as torres foram construídas. Contratou-se duas construtoras distintas, uma para cada edifício, e a que terminasse primeiro ganharia um bônus. Como resultado, ambos os prédios ficaram prontos em 6 anos, o que pode ser considerado como muito rápido, nada como uma competição saudável, não?!

Em Kuala Lumpur eu poderia explorar um dos meus maiores interesses, as religiões. Havia chegado a hora de conhecê-las um pouco mais, já que a Malásia é um país oficialmente muçulmano e possui uma grande estrutura hindu. Poucas pessoas sabem que sou agnóstico, porém gosto muito de aprender sobre diversas crenças e doutrinas. Penso que grande parte da cultura dos países está diretamente ligada às religiões pregadas nas redondezas, e nada melhor que mergulhar de cabeça na cultura malaia.

Fomos à Batu Caves.

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Eu, em Batu Caves, com medo que o macaco surrupiasse a minha Coca-Cola. Eu levaria essa luta até suas últimas consequências.

Batu Caves é um dos principais templos hinduístas da Ásia, o tamanho de tudo assombra. A começar pelos monumentos e pelas escadarias. Ele é considerado o templo hindu mais famoso fora da Índia, e visual como um todo do lugar é muito simbólico e peculiar. Vale muito a pena conhecer um lugar desses.

Outra atração que vale a pena ser citada é a Mesquita Nacional da Malásia. Esse talvez seja o único país islâmico que visitarei, e nesse caso me senti na obrigação de visitar um dos templos árabes mais famosos do país, sempre é bom entrar em contato com uma visão alternativa nesse caso, porque o que não falta é gente criticando uma das maiores religiões do mundo sem nem ao menos saber o que ela prega.

Foi um dos lugares mais limpos e organizados de toda Kuala Lumpur, estilo sala cirúrgica. Fizemos um tour guiado por uma muçulmana bem simpática e essa visita foi muito legal, pois ela nos explicou várias passagens do Corão, tentando nos converter, é claro. Acho que a iludi, pois eu estava interessado na parte histórica, na retórica e na interação com outras religiões, essa minha curiosidade a fez pensar que eu estava propenso a me converter. No final ela me deu dois livros, avaliados em uns RS 30,00 cada um. Não minto, na hora pensei em vender, mas achei mó mancada com o tal do profeta, e talvez os use na matéria de Islamic Law, Banking and Commerce na SMU.

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Mesquita Nacional da Malásia.

Saio de Kuala Lumpur satisfeito, sem nenhum grande problema e com a promessa de retornar a KL para assistir à F1 no autódromo de Sepang. Sempre existirão lugares que não visitamos e experiências que não vivenciamos, no entanto se você der muita bola a esse pensamento, os senhores não apreciarão o momento da forma adequada. Fiz o que queria e posso dizer que a viagem foi um sucesso.

Última observação: Se eu conhecesse a amiga do Menezes ela não estaria mais entre nós. Quase perdemos uma baita jornada por conta de uma informação porca dela. Não vi ao menos uma poça d’agua em KL, muito menos na estrada.

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One Comment

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  1. Luizão você é demais!!! Não para de escrever nunca! Saudaaades!

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