Por Luiz Gustavo Freire
Viajantes: Eu, Brian (Canadá), Rachel (Canadá), Desiree (Canadá) e Winnie (Canadá).
Foi uma chegada agitada em Bali. Encontraria com meus companheiros de viagem em um hotel em Ubud. O avião aterrissou às 12:30AM, e por volta das 2:30AM já estava ao lado deles e de um guia local que nos levaria a uma trilha para escalar o vulcão de Mount Batur. O objetivo era assistir o nascer do sol no cume e ele foi alcançado.
É uma boa aventura, os guias lhe dão um sanduíche e uma lanterna para fazer o trekking de forma mais segura, mas não se iluda, é bem difícil se sentir seguro.

Em diversos momentos a trilha atravessa caminhos estreitos em que só se vê um matagal aos lados, para mim seria algo bem plausível algum animal aparecer no meio da trilha do nada. Nesse tour eu vi estrelas brilhando de forma intensa às 4AM e um nascer do sol inesquecível.
Vimos a cratera gigantesca do vulcão e algumas fendas na terra que liberavam vapor quente. O guia pegava um isqueiro emprestado e brincava com o vapor criando chamas de fogo bem grandes. Só brincadeiras saudáveis, tais como alimentar 20 macacos de uma vez. Enfim, acho que ele sabia o que estava fazendo…
O dia foi bem agitado, basicamente conhecendo a região de Ubud, mas não pude deixar de notar em diferentes regiões da cidade a construção de estátuas/carros alegóricos de uns bichos muito feios, tipo uns demônios mesmo. Inicialmente eu ignorei, mas eles passaram a ser bem constantes e cada vez mais assustadores.

Bali é uma exceção na Indonésia, o país é islâmico, porém a ilha de Bali representa o reduto dos hindus na nação. Eu sabia que o Hinduísmo de Bali era um pouco diferente do Hinduísmo Indiano, mas naquele momento eu achava que uma dessas diferenças era o fato da religião balinense seguir o diabo. Eles pareciam se divertir construindo aqueles demônios, como crianças indefesas assistindo um programa matinal da Xuxa, ou ouvindo uma de suas músicas de trás para frente. Já estava achando que eles consideravam “o Exorcista” um filme do gênero Drama, ao invés de Terror. Deve ter sido difícil para eles assistir aquele demônio sofrer daquele jeito no exorcismo. Constantine seria sinônimo de Darth Vader por lá.

No dia seguinte eu entendi o que se passava na ilha. O ano novo balinense estava se aproximando, seu nome é Nyepi Day e se trata de um feriado religioso somente comemorado em Bali. Nesse dia, todas as pessoas na ilha não são permitidas a sair nas ruas e têm, obrigatoriamente, que permanecer em casa, fazer o máximo de silêncio possível e são usar luzes artificiais. É algo bem profundo e espiritual, que é complicado de compreender se você não entende a religião. Dessa forma, os hotéis (toca dos turistas) funcionam praticamente normal, mas mesmo assim não é permitido andar nas ruas ou praias.
Para comemorar a transição de um ano para o outro, é realizado um desfile no qual os demônios são conduzidos do centro da cidade para as periferias, como forma de simbolizar a expulsão deles. Por isso os carros alegóricos.
O clima de Bali é mágico. É muito quente, mas me lembra um pouco São Paulo no sentido que em menos de 10 minutos pode acontecer de tudo. Em um dia cheguei a ver duas tempestades arrasadoras e três céus azuis, sendo que no último deles o pôr do sol mais lindo da minha vida. No Nyepi Day, vi o céu mais estrelado da minha vida (isso definitivamente não me lembra São Paulo).
A única luz artificial vinha do visor do meu iPod, e a ausência de luz na ilha destaca muito as estrelas. Deitei na borda da piscina, saquei meus fones de ouvido e aproveitei a madrugada encarando os corpos celestes. Nasci e fui criado em São Paulo, ver alguma estrela no céu paulistano beira o milagre. Não podia perder a chance ver todas ao mesmo tempo, fiquei mais de duas horas vibrando com o show, literalmente, de outro mundo.
Eu ficaria um dia a mais que meus companheiros de viagem, e não faltava lugares para conhecer. Sozinho, fiquei com medo de alugar uma scooter e me aventurar por lugares que nem sabia onde ficavam no mapa. Contratei um taxista para o dia inteiro (saiu incrivelmente barato), e foi de longe a melhor decisão que tomei. Eu tinha todo um roteiro planejado, e ele me dava opiniões e dicas. Descolei uns descontos muito bons em vários lugares, pois ele sabia o preço real e ainda barganhava por mim.
Como em todo sudeste asiático o número de brasileiros em Bali é ínfimo, e é muito fácil encontrar drogas (exceto em Cingapura). A rua pode ser a mais movimentada da cidade que ainda assim existirão uns caras oferecendo cogumelos, maconha e outras drogas. É uma situação muito paradoxal, o tráfico de entorpecentes dá pena de morte, no entanto a venda interna parece ser mais do que liberada. Os traficantes que me ofereciam não se esforçavam muito em esconder sua profissão. Eu tenho essa visão de que Bali é uma grande exceção de uma nação chamada Indonésia, pois reage praticamente como um país. Os costumes de lá são diferentes do que no resto do país.
Muitas pessoas imaginam belíssimas praias quando escutam a palavra Bali, elas não deixam de estar corretas, entretanto a diversidade das atividades que podem ser realizadas é imensa. É possível ficar em Bali por duas semanas e não ter conhecido pontos tão belos, porém interessantíssimos.
Sai de Bali com o remorso em não ter visitado as ilhas Gili, mas satisfeito e feliz com o que vi por lá. Definitivamente é um lugar que vale a pena visitar com calma e explorar as belezas naturais locais.
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