Especial: Hong Kong

Por Luiz Gustavo Freire

Viajantes: Eu, Josh (Inglaterra), Clemènt (França) e Alex (Canadá)

Entrei em pânico com 20 minutos em território chinês. Com meu smartphone em mãos, e o WiFi providenciado pelo aeroporto de Hong Kong, não achei que seria um problema me movimentar pela cidade. Quando abri o Google Maps, e vi os nomes de todas as ruas representados em caracteres chineses tradicionais, e pensei:

“Essa viagem promete fortes emoções”.

Lembro-me de ter visto tudo em inglês em Cingapura, mas aparentemente em território chinês o aplicativo muda a língua das ruas. Com o app em cantonês (dialeto falado em Hong Kong), recorri aos bons e velhos mapas, aqueles feitos especialmente para que os turistas não consigam dobra-los corretamente uma vez abertos. Não tive problemas com relação à localização graças a esse artefato milenar.

O clima foi outro fator que me pegou desprevinido.

Quando olhei a temperatura antes de viajar, tudo indicava uma média de 18ºC durante dia.

– É tipo o inverno paulista, só levar um moletom e vai ficar tudo certo. – conjecturei dentro de minha própria mente.

Logo na saída do aeroporto verifiquei um frio congelante de 14ºC com aquela chuvinha que só contribui para piorar o cenário. Ou seja, arrependi-me amargamente de não trazer outro agasalho, mas ao final da jornada cheguei à conclusão que meu cálculo não estava errado.

No último dia a temperatura não estava muito diferente dos dias iniciais, entretanto já me encontrava bem mais acostumado ao clima local. A questão reside no fato de sair de uma nação, onde a temperatura média é 27ºC, e entrar em uma com 14ºC. Meu corpo demorou uns dois dias para acostumar, até lá sofri um pouco, pois não queria comprar roupas de frio e as encarar em meu armário por três meses.

Mas vamos à viagem.

Josh tem um amigo que nasceu e foi criado em Hong Kong. Antes de viajarmos, ele se ofereceu para fazer um tour pela cidade conosco. Foi perfeito, especialmente para nós, que tínhamos pouco tempo. Seu nome era Caleb, e ele mandou muito. Deu para ter uma ideia do que Hong Kong representa, começando por Mong Kok.

mong-kok-shopping
Mong Kok durante a noite.

O bairro representa as raízes da cidade, antes de toda a intervenção ocidental. Para mim, deu para sentir um gostinho de China. Não viajei para outras cidades chinesas, porém naquele bairro eu me senti nas terras do Alibaba.

Fiquem calmos, caros leitores, eu explico.

A sensação que é possível captar em suspiros e murmúrios carregados pelo vento é que Hong Kong não faz parte da China, eles tentam ao máximo manter diferenças com os chineses, seja na língua, política ou economia. É comum alguém não considerar HK parte da China, mesmo que seja possessão chinesa desde 1997.

Ahhh, e Alibaba não é o personagem árabe do Livro das Mil e Uma Noites, e sim o senhor que atualmente está usando notas de $100 como papel higiênico.

Papel higiênico utilizado por Alibaba durante suas necessidades no trono da igualdade.
Papel higiênico utilizado por Alibaba durante suas necessidades no trono da igualdade.

O bairro de Mong Kok é o melhor lugar para se fazer compras em HK. Os preços não são milagrosos, mas quebram um galho. É aí que mora o perigo. Os preços da antiga colônia inglesa são tão altos quanto os de Cingapura, a diferença é que algumas lojas vendem uns produtos meio… “paraguaios” (tudo é feito na China, ou seja, a metáfora de produtos falsificados fabricados na China já se foi há muito tempo). Josh, por exemplo, queria comprar um tênis de corrida. Ele não conseguia se decidir, pois era impossível dizer se aquele tênis com um símbolo igualzinho ao da Nike era fake. A solução que reduziria os riscos seria comprar em uma loja oficial da Nike, todavia muitos estabelecimentos simplesmente copiam a fachada das marcas americanas, dão umas camisetas com o símbolo da empresa para os vendedores, e Boooom, você foi enganado. É claro que em alguns casos você bate o olho no sapato e dá risada, mas em outros quem dá risada é o vendedor que lhe passou a perna.

Após Mong Kok, fomos ao Victoria Peak. A melhor vista de HK, mas deu muito trabalho chegar lá em cima. Encaramos uma fila de 2h somente para subir, a descida demorou 1h30min de fila. Eu estava em território chinês, e o que não falta por lá é gente. Tudo na cidade é super cheio e lotado, o metro é insuportável, sempre é hiper difícil encontrar mesas para sentar nos restaurantes e o transito é chatinho. Só não perdi a paciência, porque fiquei poucos dias e nenhuma política loira me tranquilizou: “Relaxa e goza, porque depois você vai esquecer todos os transtornos”.

No dia seguinte, nossa jornada seguiu em Stanley Market, sempre com a ilustre presença de Caleb (nosso amigo chinês). Essa é uma região um pouco mais afastada da cidade e bem mais agradável que a loucura urbana. Como a concentração de pessoas é menor, é possível ao menos tentar respirar um pouco de ar limpo. Minha tentativa foi em vão. A poluição é um problema grave na China. Hong Kong é basicamente uma cidade que presta serviços, sem produzir bens em seu território, porém a poluição a atinge de forma brutal devido sua proximidade à região de ShenZhen, por exemplo. ShenZhen é uma das zonas econômicas especiais desenvolvidas por Deng Xiaoping. Ela se localiza logo na fronteira entre Hong Kong e a China, e a quantidade de poluição carregada pelos ventos desse centro para HK é muito grande. O resultado é um céu mais cinza do que azul, um mar mais escuro e um ar envolto de estresse.

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Stanley Market.

O Big Buddha é outra atração necessária, quando se viaja à HK. Novamente, enfrentamos uma filinha de 1 hora para pegar uma gôndola que nos levava ao ponto turístico. Esse passeio completou nossa aventura, pois até lá vimos sobre a cultura e a economia local, mas nada com relação à religião praticada. Por estar localizado na mesma ilha que o aeroporto, deixamos essa atração por último.

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Construído em 1993, o Big Buddha é uma das maiores estátuas budistas da China e é um símbolo da religião no país.

Quase pegamos uma balsa em direção à Macau. Seria muito legal conhecer a cidade e seus cassinos, entretanto a idade mínima permitida é de 21 anos. Rumores apontavam que estrangeiros acima de 18 anos conseguiriam entrar, mas a lei dizia claramente as restrições quanto à idade permitida. Optamos por não arriscar e ficamos em HK mesmo, seria deprimente gastar dinheiro com a balsa, embarcar na belíssima cidade e ser barrado na entrada dos cassinos (principais atrações).

Não vou me segurar. Meus últimos comentários nesse especial serão direcionados a uma comparação entre Cingapura e Hong Kong.

Não me senti nem um pouco deslocado nessa viagem, é um ambiente muito similar ao de Cingapura. Quase 70% da sociedade cingapuriana é formada por chineses, ambos os centros econômicos simpatizam e possuem ligações com o ocidente, além de seguirem códigos de conduta muito parecidos (filosofia Neo-Confusionista). Hong Kong é mais mergulhada nessa cultura, seja por sua proximidade histórica ou por ser integrante do território chinês.

Deixe-me ilustrar algo curioso. Ao andar nas ruas, é comum uma pessoa esbarrar em você e sair andando. Muitas vezes é um verdadeiro encontrão, e você, instantes depois, pede desculpas como um louco enquanto a pessoa sequer olha para trás. Em Cingapura, as pessoas também não pediriam desculpas, mas aceitariam as suas com um sorriso pelo menos.

Ao falar mandarim em HK, corre-se o risco de deixar o outro interlocutor do diálogo bem irritado, eles tomam essa ação como uma imposição de determinada cultura externa em detrimento da local. Eles costumam ser agressivos no sentido de preservar a cultura local. Cingapura possui 4 idiomas oficiais.

Tudo é cheio em Hong Kong, as filas são um fardo quase inevitável, e algumas vezes senti algumas falhas de organização. Em Cingapura é raro pegar uma fila longa. Um dado interessante para essa comparação é que a densidade de habitantes por km² de HK é menor que a terra do merlion.

Esses centros econômicos possuem diferenças, mas são as similaridades que assustam. Um se inspira no outro, e o outro no um.

Existe certa rivalidade entre as metrópoles, que acabam competindo pela superioridade econômica no mesmo fuso horário, porém é algo tão saudável e natural que chega a ser positivo para ambos. Com certeza os senhores já repararam que sou #TeamSingapore, contudo as cidades possuem a mesma intensidade.

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