Por Luiz Gustavo Freire
Viajantes: Eu, Marie, Rob (Canadá), Nancy (Canadá), Cherry (Canadá), Johnny (Canadá) e Danielle (Canadá).
Eu não sabia do que esperar do Myanmar. É um país que está se abrindo aos poucos para a comunidade internacional, após longos anos de uma ditadura violenta. Há uns 5 anos atrás, por exemplo, era bem difícil visitar essa nação como turista.
O Plano inicial era fazer Yangon e tomar um rumo em direção ao norte, para Mandaley e Bagan. Essas duas últimas duas localidades são as mais bonitas do país, mas um contratempo me impediu de visitá-las. Fui obrigado a me separar do grupo e traçar um roteiro diferente.
Sinceramente, não gostei muito de Yangon. O fato de possuir poucos pontos turísticos e ser um tanto quanto caótica são pontos negativos que pesam contra Yangon. A Shwedagon Pagoda é um ponto histórico, cultural e religioso que vale a pena visitar. É um monumento que possui uns 1.500 anos e se destaca na cidade. Para entrar, é preciso que o visitante esteja descalço. Com isso, a minha sugestão é que sua visita ocorra no início do dia ou no final da tarde, pois o chão é de mármore e fica sob o sol durante todo o dia. Deve ser impraticável andar lá às 13h.

O trânsito é um ponto que chama a atenção negativamente na cidade, é extremamente caótico. Todas as vezes, com exceção da ida e vinda do aeroporto (mais afastado da cidade), o taxi pegou algum engarrafamento. É de dar nos nervos. Um detalhe curioso é que a mão das ruas é feita para motoristas localizados no lado esquerdo do carro, enquanto os automóveis possuem o volante no lado direito. Chega a ser bizarro uma incoerência dessas, todo um sistema que foi desenvolvido para trazer segurança aos condutores é ignorado e chega a contribuir para a insegurança no trânsito nesse caso. Felizmente alguém reparou esse fenômeno e os carros estão sendo produzidos com o volante no lado esquerdo do carro, porém é tão recente que chega a ser raro encontrar veículos seguindo as novas normas.
Para mim, Yangon é uma cidade que está se desenvolvendo muito rápido nesses últimos anos, e com isso colhe frutos e apresenta mazelas de um crescimento acelerado e desorganizado.
Após Yangon, peguei um nightbus e fui à Kyaikhteeyoe. Essa cidade fica na base de uma montanha, e no pico dela temos uma pedra bem singular. Ela é conhecida como Golden Rock.

Fiquei chateado por não visitar Mandaley ou Bagan, porém a experiência que tive foi enriquecedora a ponto de esquecer o que não pude vivenciar. Comprei a passagem com uma mulher que prometeu levar-me do meu hostel ao ônibus. Ela estava 5 minutos atrasada, e eu desenvolvi aquela preocupação que me deixou inquieto, a ponto de pedir à mulher da recepção para ligar para ela. Elas conversaram por volta de um minuto intensamente, com uma boa variação nos tons de voz. Tenho quase certeza que o Makelele, volante de contenção do Palmeiras em 2004 foi citado no diálogo.

A resposta que tive foi:
– She’s coming.
Aquilo foi o suficiente para mim, e engraçado.
No carro, a vendedora estava dirigindo, enquanto sua filha e uma respectiva amiga sentavam no banco de trás. Ali foi o meu primeiro contato efetivo com alguém de Myanmar. Elas conheciam o Cafu, Roberto Carlos, Ronaldo, Rivaldo e as praias brasileiras mais famosas. Elas ficaram fascinadas com a minha descrição sobre o Brasil, e riam de quase tudo que dizia. As garotas do banco de trás estavam impressionadas com o meu cabelo, e pediram diversas vezes para mexer nele. Não me incomodei, foi engraçado.
Ao entrar no ônibus, fiquei assustado. Não identifiquei nenhum turista, e descobri que só umas 6 pessoas sabiam falar inglês. Eu colei nesses caras.
Chegamos às 3am em Kyaikhteeyoe, o objetivo era pegar o nascer do sol no topo da montanha, e os caminhões partiam às 5 A.M. . Simplesmente fiz o que todos fizeram, aluguei um cobertor e um travesseiro, e dormi no chão de um restaurante. Estava bem frio, por isso o cobertor.
A viagem para subir a montanha com os caminhões durou cerca de 50 minutos, e os passageiros sentavam em bancos postos no lugar da carga, na traseira. Eram uns 5 bancos, e as pessoas iam apertadas como sardinhas em lata. Foi uma viagem louca, talvez o momento mais perigoso que passei em todo o intercâmbio. O motorista atingia velocidades insanas e passava perto de ribanceiras de tirar o fôlego. Eu segurava uma barra a minha frente com toda a minha força, e só relaxei no momento em que entendi que não estava no controle da situação. Aproveitei o resto da viagem como se fosse uma montanha russa.
Aquele templo é muito sagrado, impossível não sentir uma energia rejuvenescedora e empolgante que te envolve. Talvez seja por conta do perrengue que se passa para chegar lá, são tantos desafios que o sentimento de presenciar aquele símbolo religioso ao vivo e à cores alaranjadas do nascer do sol se sobrepõe a tudo. Você esquece tudo o que passou e aprecia a beleza do lugar.

Somente os homens são permitidos a tocar na pedra e não é possível tirar fotos muito perto da rocha. Não sei se existe algum suporte dentro da rocha que a mantém parada, ou se o centro de gravidade contribui para deixá-la imóvel, mas é algo mágico de se ver.
Dentro do complexo do templo, é raro encontrar turistas, encontrei uns dois somente. O que é comum são os nativos pedirem para tirar fotos com você. Aconteceram 5 vezes, na primeira fiquei completamente sem graça, porém já me achava uma celebridade lá pela quarta.

Mas falando sério agora, é impossível não criar afinidade pelo povo de Myanmar. Depois de tudo que passaram e ainda passam com a ditadura, eles mantém a capacidade de ser um dos povos mais receptivos da Ásia. É um povo muito sofrido e ingênuo. Há aqueles que dizem que a ingenuidade é a forma absoluta da sabedoria. Não tenho a capacidade de desenvolver esse pensamento, no entanto meu coração sempre fica mole quando me lembro de Myanmar.
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