Especial: Ilhas Tailandesas

Por Luiz Gustavo Freire

Viajantes: Eu, Menezes, Marie, um grupo de 4 franceses e um casal canadense, todos do Yoha@Henderson.

Iniciamos nossa jornada por Krabi Town. Ela é uma cidade doida, no bom sentido, que esbanja personalidade a cada esquina. Vou exemplificar: chegamos no hostel, outro albergue de qualidade, e o Menezes nos esperava sentado em uma scooter.

Calma, eu explico. Como ele não tinha aula na quinta-feira, pegou o avião na própria quarta e ficou hospedado em Krabi Town por um dia a mais. Pessoalmente não encontrei nenhum taxi por lá, e o deslocamento automotor se dava através de vans contratadas com antecedência ou por scooters alugadas.

Na hora fiquei tão perplexo quanto vocês estão agora e o perguntei imediatamente:

– Você sabe dirigir isso aí, cara? Você tem carta de habilitação para moto?

– Hahahaha, por aqui eles nem sabem o que é isso. Aprendi a andar com uns italianos que estão hospedados aqui no hostel. – disse ele, respondendo a segunda pergunta antes da primeira, com um sorriso estampado em seu rosto praticamente declarando sua alegria e euforia a todos na rua.

O próprio hostel alugava scooters, e por um preço inacreditavelmente barato, além de ser um dos lugares mais confiáveis. Ramzi resolveu economizar alguns bath (moeda tailandesa) e se deu mal, alugaram uma moto com pouca gasolina para ele. Ele inclusive tem uma boa história sobre o estabelecimento. O francês foi obrigado a deixar sua carta de habilitação francesa na loja, como forma de garantia que ele retornaria com a motocicleta. Mas eu lhe questiono caro leitor, como dirigir sem uma carta de habilitação? É só para trazer uma noção aos senhores de como o país é louco e divertido, no mínimo vai. Alugamos a moto e nos dirigimos ao Tiger Cave Temple. Esse é um templo hindu, e fica a uma boa distância de Krabi Town, ou seja, pegamos um trecho de estrada com as motocas. Não foi difícil, é basicamente uma bicicleta um mais veloz e pesada, em que você não pedala. O fato de não pedalar e andar mais rápido me trouxe um equilíbrio significativamente maior e não passei por problemas. Mas vou confessar, o desafio estava em andar nas ruas tailandesas, pois elas são de mão invertida, assim como as inglesas e cingapurianas. É complicado atravessar as ruas em Cingapura, tenho sempre que olhar para os dois lados antes de cruzar o asfalto, pois em 80% das vezes olho primeiro para o lado errado. A direção das ruas é algo que está muito enraizado em minha mente, o resultado disso é que não atravesso as ruas sem olhar para ambos os lados em hipótese alguma.

moto
Eu (com meu capacete estiloso), o Menezes e o Ramzi pegando uma estrada na Tailândia.

Entretanto naquele dia eu não era um simples pedestre mortal, eu representava a classe mais odiada pelos paulistanos no transito. Minha concentração foi grande naquele dia, 120% da minha mente estava trabalhando para não fazer nenhuma barbeiragem e cair em alguma contramão, por exemplo. A viagem não poderia ter sido melhor, tudo correu como o planejado.

Em Tiger Cave Temple, fomos surpreendidos. Eu estava esperando algo como Batu Caves, umas escadarias grandes, mas nada que demandasse muito esforço. O templo fica a 600 metros de altitude, e estávamos no metro 0. Um detalhe interessante para os leitores mais sádicos: não sabíamos da altura.

Tudo estava muito bonito e inocente, com macacos bonzinhos e temperatura perfeita para subir algumas escadas, o objetivo era ver o pôr do sol no topo. Com o tempo eu levantei uma suspeita temerosa e ela atingiu meu psicológico com força, como aquele vento gelado que lambe nossas peles em um inverno canadense rigoroso. Todas as crianças de menos de 8 anos fazem essas mesmas perguntas a seus pais em qualquer viagem, seja ela de carro ou avião. Questionei:

– Está chegando? Quanto falta?

– Ainda falta 75%, Luizão. – disse o Menezes apontando para uma coluna indicando que subimos apenas ¼ do total.

Naquele instante o mundo ficou preto e branco. O suor que percorria minha testa agora era frio.

SONY DSC
Tiger Cave Temple.

Parei por 10 segundos, e tomei dois goles do meu combustível oficial, a Coca-Cola. Com calma, raciocinei e cheguei à conclusão que aquilo não era uma atividade de exploração comum, era um hiking, e um dos íngremes. Lembrei-me das minhas experiências canadenses de hiking, e mudei completamente meu espírito. Em 10 segundos abandonei o mochileiro explorador que existia em mim e virei um atleta. A partir daí consegui pegar um ritmo melhor, controlando a respiração e pensando somente em uma coisa: no próximo degrau a subir. Dessa forma cheguei no templo relativamente bem.

“What a chillin’ place!” foi meu primeiro pensamento. O meu segundo foi : ”PQP, começaram a acender os incensos, logo mais vai feder.”. Para quem não sabe sou alérgico a incenso, e meu nariz se auto destrói no mesmo instante em que sinto a fumaça do palitinho, além de que não aprecio o cheiro em si.

Mas brincadeiras a parte, a vista é belíssima, e o sentimento de vitória ao alcançar o cume do morro é revigorante.

No dia seguinte partimos rumo à Ko Phi Phi. O grupo de ilhas Phi Phi é um aglomerado de ilhas paradisíacas, em que Ko Phi Phi é a maior e principal.

Não estou brincando, muito sério isso. Eu fui com a camisa do Corinthians nesse dia, justamente para encontrar brasileiros. E com menos de 10 minutos na ilha, encontramos um carioca que oferecia viagens de barco pelas ilhas para mergulhar, escalar as pedras, etc. Trocamos um papo sobre o lugar, basicamente aquelas conversas naturais e rotineiras quando se encontra um conterrâneo por essas bandas. No final da conversa ele chegou a oferecer drogas. Cara, a crise Brasil-Indonésia estava no auge e o brasileiro prestes a ser executado pelas autoridades indonésias. Não sei, e nem parei para saber como funciona a legislação tailandesa quanto ao combate às drogas, mas o maluco é muito corajoso para fazer isso. Liguei um sinal de alerta naquele momento “Esse lugar é paradisíaco, mas ninguém disse que o paraíso é seguro.”. Eu sei que a bíblia retrata o paraíso como um lugar onde todos encontram a paz, mas eu claramente não estava naquele paraíso bíblico (ainda bem né, eu digo, estou vivo).

Passamos o finalzinho de tarde na praia aquele dia, para ver o pôr do sol. E de repente tomo um susto, o mar começa a recuar absurdos, e em menos de 20 minutos ele se encontrava a uns 50 metros de onde tomávamos sol. Quase gritei “TSUNAMI!!!!!” Esperei mais uns 5 minutos para ver se alguém mais partilhava de meu terror e ninguém esboçou uma reação, cheguei à conclusão que era normal esse recuo.

IMG_3922
Ko Phi Phi prestes a ser atacada por uma tsunami, segundo eu.

As 7h da manha seguinte, eu, a Marie e um francês chamado Theo, fizemos uma pequena trilha até o Viewpoint. Infelizmente fomos em um horário ruim, pois a maré ainda estava recuada, e não deu para ver aquele azul claro característico de praias paradisíacas. Descemos do morro e descobrimos que fomos abandonados na ilha pelos dorminhocos. Eles não esperaram por nós e alugaram uma canoa que os levou até Maya Bay. Foram exatamente 5 minutos de diferença, corremos até o píer para descobrir que fomos deixados para trás. Na hora fiquei P da vida, mas me recompus a ponto de barganhar com os barqueiros sem transparecer que tínhamos que ir até a baía de qualquer maneira. Fiquei mais calmo ao descobrir que pagamos o mesmo preço que os apressadinhos, sendo que eles eram 6 e nós 3, além de que o nosso driver era bem mais legal.

Chegamos em Maya Bay e fiquei boquiaberto com a beleza natural da ilha. Posso afirmar que entendo completamente os produtores do filme “The Beach” com Leonardo DiCaprio, quando escolheram Maya Bay para realizar as filmagens. Que lugar lindo. Encontramos o resto do grupo e ficamos aproveitando a praia por uma hora. A partir desse ponto daríamos uma volta de barco pelas ilhas, mas metade dos integrantes da outra canoa gostaria de ficar tomando um pouco mais de sol. Naquele momento eu agradeci muito as forças divinas tailandesas que não os fez esperar por nós inicialmente. Eu, a Marie e o Theo, continuamos nossa aventura sem o resto do grupo, e como o nosso driver era brother, ele deixou a gente mergulhar em uma das ilhas. Digo-lhes que nunca havia visto tantas espécies de peixes em um mesmo ambiente, ao vivo e em cores. Todos muito bonitos, e o melhor, a um metro de distância de meus olhos. Após o mergulho, eu e o Theo resolvemos escalar uma pedra e pular no mar, após a garantia do barqueiro de que era seguro pular. Theo foi na frente, e logo no início já me perguntou:

– Cara, será que existem cobras aqui? Eu escutei um barulho!

Um dos animais que mais temo são as cobras, não tive nem tempo de refletir sobre o assunto e o francês já emendou a pergunta com o pedido de que eu fosse na frente. Na hora eu superei o meu medo e fui, com muita cautela, mas fui. Deve ter sido uma cena bem engraçada, pois o cara é bombadão e teve que pedir para o magricela tomar a dianteira. Confesso que senti orgulho, mas somente até a hora do pulo. Pulei de uma altura de uns 3 metros, achando que estava abalando a Ásia e conquistando o coração de todas as gatinhas pelo meu ato de bravura, mas quando o maluco me pula de uns 6 metros eu retorno ao meu estado de espírito e confiança normais. Foi um rolezinho daora, infelizmente não igual àqueles no shopping com óculos escuros amarelos e funk ostentação como trilha sonora, mas valeu  mesmo assim.

IMG_4113
Estudo, recentemente publicado por Luiz Freire, analisa se a água do mar realmente é mais branca que os turistas presentes nela.

Foi uma passagem muito corrida por Ko Phi Phi, literalmente, pois tivemos que correr bastante para pegar a última ferry em direção à Krabi. Pela beleza que elas possuem, as ilhas tailandesas merecem mais do que 3 dias.

Última observação que tenho a fazer: mais de uma pessoa já me perguntou de qual viagem mais gostei. Como sou uma pessoa sincera e direta, sempre respondo do fundo do coração. Mas a realidade é que são viagens diferentes, com objetivos distintos, culturas divergentes e experiências únicas. Não sou ninguém para julgar se um lugar é melhor que outro, só tenho minha humilde opinião.

Até semana quem vem, meus caros.

Publicidade

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Imagem do Twitter

Você está comentando utilizando sua conta Twitter. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s

%d blogueiros gostam disto: