Por Luiz Gustavo Freire
Viajantes: Eu, Marie, Cherry (Canadá), Johnny (Canadá) e Nancy (Canadá).
Com exceção dos primeiros dias de comemoração, o ano novo chinês é um feriado muito mais voltado à família e amigos próximos. Ele dura aproximadamente duas semanas e todos os estudantes intercambistas costumam picar a mula de Cingapura e passear pelo sudeste asiático.
Nossa viagem começou por Phnom Penh (Capital), e ao sair do aeroporto já fomos assediados por diversos homens oferecendo um serviço de “taxi”. Eles, na verdade, eram os famosos Tuk Tuk drivers. O Tuk Tuk é basicamente uma moto que carrega uma espécie de carroça.

Nos primeiros momentos você fica meio assustado, mas atravessado esse momento é uma diversão das boas. Entre um Tuk Tuk e um taxi, eu escolheria o Tuk Tuk para perambular pelas ruas cambodianas hahahaha.
O hostel em que nos hospedamos era muito bom, ele fora recomendado por diversos estudantes intercambistas, mas alguns pontos devem ser mencionados.
Com duas horas de Cambodia na bagagem, resolvemos andar a pé para conhecer as redondezas do hostel. Estava tudo ótimo, companhia boa e um humor para cima. Até que em uma ruela, avistamos duas motos andando em alta velocidade, todos na rua estavam gritando “Go, Go, Go!!!!”. Achei que era alguma espécie de racha ou corrida de motos e entrei no clima. Gritei “Go, Go, Go!!!” também, com uma pitada de alegria enrustida em minha voz. Passadas as motocas, eu apresentava um grande sorriso, enquanto os cidadãos que gritaram anteriormente estavam com uma cara extremamente fechada. Aquela cena se tratava de uma perseguição, a vítima de um furto acelerava atrás do ladrão que a havia roubado. Ali eu percebi que estava em um território não amigável, para não falar bem hostil.
Também não foi fácil descobrir que duas semanas após nossa estada no albergue, uma garota inglesa morreu em nosso hostel. Aparentemente um australiano tentou estuprá-la no rooftop bar (4º andar) e ela caiu da varanda. Essas notícias correm rápido no mundo dos intercambistas.
Apesar de possuir um tom caótico, Phnom Penh vale a pena, principalmente àqueles que gostam de história. O War Museum e Killing Fields atuam em conjunto para descrever a guerra civil que Cambodia viveu. Se gasta meio dia para visitar ambas as atrações. O sentimento é horrível, ao visitá-los você perde uma grande parcela de fé na raça humana.
O regime comunista cambodiano foi um dos mais violentos da história. O genocídio alcançou números assustadores de 2 milhões de pessoas mortas. Na época, a população cambodiana era de 8 milhões, ou seja, Pol Pot (ditador cambodiano) conseguiu em 4 anos dizimar simplesmente ¼ da população. Esse cara se encontra em um grupo muito seleto de monstros da história mundial, junto com Joseph Stalin, Adolf Hitler e Benito Mussolini. O museu assusta, impacta e atinge a qualquer pessoa com o mínimo de bom senso, não é difícil encontrar marcas de sangue no chão ou objetos de tortura no museu. Como se trata de um genocídio relativamente recente (1975 – 1979), é fácil descrevê-lo ou imaginá-lo, você se sente imerso na situação.

Não é fácil se recuperar do baque, no meu caso umas duas horas foram o suficiente para direcionar minha mente de volta à viagem.
Da capital Phnom Pehn até Siem Reap, pegamos um night bus, e em seis horas estávamos na cidade histórica. Parece outro país, todo o caos e bagunça em Siem são irrisórios perto da capital administrativa. Ao meu ver, o governo tenta ao máximo fazer com que aquela fatia do país seja amigável o suficiente para que turistas do mundo inteiro possam visitar. Desde o lixo na rua, até poluição visual ou no ar, tudo é mais agradável.
Em Siem Reap precisamos de dois dias para fazer os templos. Angkor Wat é o mais famoso deles, mas outros como Bayon e Ta Prohm chamam a atenção pela beleza artificial produzida no século XIII. Outro ponto interessante do Ta Prohm Temple é que o filme Tomb Raider foi filmado por lá. Todos os templos passam uma sensação de aventura, como se fossemos aventureiros ao melhor nível Indiana Jones. Eles são maravilhosos e impressionam pela maneira com que foram conservados, após tantas guerras e batalhas aquelas construções ainda continuam de pé. A melhor coisa que você, caro leitor, pode fazer se viajar até Siem Reap é assistir o nascer do sol na frente do Angkor Wat. É uma experiência única.

Após os templos, fizemos uma visita a uma fazenda de Seda. Esse passeio se tratou de um tour bem turístico, eu explico. Lá acompanhamos todas as etapas que envolvem a produção da Seda, desde o cultivo de larvas até a separação de fios ou a costura final. As larvas têm um tamanho um pouco maior que uma minhoca e são alimentadas com um tipo de planta especial. As larvas usam seus dejetos para construir um casulo, e se a intervenção humana não ocorresse elas virariam mariposas. Acontece que esses casulos são cozinhados com a larva ainda dentro para amolecer o tecido do casulo. Os fios são postos para secar e depois é iniciado o processo de separação dos mesmos. O uso da seda como tecido é milenar, porém eu confesso que fiquei embasbacado com a complexidade do processo.
As condições de trabalho eram boas e o guia me garantiu que os funcionários trabalhavam apenas 8 horas por dia e 5 dias por semana. Infelizmente, essa não é a realidade cambodiana. O trabalho escravo é uma realidade preocupante no país, é por isso que afirmei que esse passeio fora turístico. Foi superinteressante conhecer a o processo de produção da seda, no entanto tenho a noção que as linhas de produção naquele país não são tão organizadas, limpas, arejadas e que muito provavelmente não seguem alguns termos da Convenção de Genebra como aquela fazenda de seda.
Essa foi uma das viagens que mais gostei, a companhia que tive não poderia ser melhor e entrei em contato com uma realidade ainda mais diferente. Após Cambodia, meu próximo destino seria Myanmar. Por lá eu conheci um americano que residia na antiga Birmânia há 1 ano e meio. Após aquela conversa padrão de mochileiros, ele me contou que foi ao Cambodia em 2004. Segundo seus relatos, mal havia eletricidade em Phnom Penh. Eu não sei se é verdade, e não ficarei chateado se você, caro leitor, não acreditar (inclusive o chamaria de cauteloso). A questão é que voltarei em 2025, só para conferir o quanto essa sociedade se desenvolveu.
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