A Viagem – Parte I

Por Luiz Gustavo Freire

É um sentimento muito bom fazer intercâmbio, e parte dele se foi logo na vistoria de passaporte ainda no Brasil, quando a mulher me mandou uma dessas:

– Bom dia, eu poderia ver seu passaporte, por favor? – disse ela com uma cara de quem havia recebido uma piada no Whatsapp segundos atrás.

– Claro – disse eu com um sorriso tímido e nervoso.

Ela coletou meu documento, analisou e proferiu a seguinte frase:

– Nossa, hahaha, já ia pedir a autorização internacional de viagem de seus pais, você parece muito um menor de idade.

– Sim, hahaha, todos dizem que sou muito velho pela minha aparência. E olha que estou com barba, sem ela você não me deixaria embarcar hahaha.

Ela olhou a minha foto do passaporte (na qual eu estava com a barba feita) e disse:

– Meu deus, nessa foto você aparenta ter uns 13 anos. Quando você a tirou?

– Ano passado.

Ela grampeou e carimbou tudo em menos de 10 segundos, com uma nítida pressa. Nos despedimos e pensei comigo mesmo “Cara, isso acabou com a minha vibe” – Esse é de fato um grande golpe na alma de qualquer indivíduo que almeja ser um mochileiro de qualidade distinta.

Mas felizmente, 5 minutos após o ocorrido tudo já havia sido esquecido, e eu já iniciava minha preparação mental para o voo. Aquele famoso friozinho na barriga surgiu na hora em que sai de casa, e até esse momento ele ia e voltava. Se o colocássemos em um gráfico, seria possível compará-lo às ações da Petrobras no período eleitoral, no entanto a partir desse instante ele era constante e eu não conseguia parar de imaginar o quão imponderável era minha viagem, não tinha nenhuma noção das dificuldades que iria enfrentar.

Ao embarcar no Boeing 777, havia uma mulher com descendência asiática (não consegui identificar a nacionalidade dela) com um bebe no colo e sentada em minha poltrona, que estava situada no corredor, como já evidenciado nesse post: http://wp.me/p5sMES-e

Chamei a aeromoça, argentina e muito bonita por sinal, para resolver a situação. O problema foi contornado parcialmente, porque a mulher me olhou com um olhar assassino após ser obrigada a passar para a cadeira do meio (de longe a pior escolha de todas quando você for enfrentar uma grande jornada de avião). O certo seria colocar o bebe junto à janela e se sentar no meio, mas não, ela se acomodou na janela e o filho ficou no meio mesmo. Resultado: Agora, ao meu lado, a criança de uns 2 anos e meio começa a me chutar e a chorar, e sua respectiva mãe não faz nada a respeito, apesar de estar a par das ações de seu pequeno demoninho. Era birra dela? Não sei e nem quero saber, só sei que ele estava me irritando muito e já estava com vontade de pegar o monstrinho pelo colarinho, abrir a porta de emergência da aeronave e deixa-lo cair sem querer. Eu seria ovacionado pelo avião inteiro, e as aeromoças serviriam Whisky 12 anos a todos os passageiros na conta do Capitão e do Co-Piloto.

Drunk in a plane
Passageiros e tripulantes da aeronave comemorando a ausência da criança que não parava de chorar.

Após o café da manha o garoto ficou mais tranquilo e adormeceu (não coloquei nada no suco de laranja dele, eu juro) e eu assisti a um filme péssimo, tão ruim ao ponto de não conseguir lembrar o nome e contra indicá-lo aos senhores. No meio para o fim do filme perdi a paciência, coloquei uma máscara de dormir e cai no sono.

O que aconteceu em seguida foi muito esquisito, foi com certeza a coisa mais non-sense da viagem inteira. Estava tudo escuro, um silêncio muito agradável e um sono especialmente delicioso para quem dormia em uma poltrona. Quando de repente, senti minha mão ficar gelada muito rápido.

água
Garrafa de água atirada pela aeromoça.

Dei um grito, e só não levantei da cadeira por conta do cinto de segurança.  Um segundo depois uma garrafa pet de 600ml de água caiu em meu pé, e metade do avião acordou e olhou para mim. A aeromoça olhou para mim com uma cara de desprezo e disse:

– It’s only water.

Na hora eu fiquei sem reação e demorei um minuto para recuperar meu fôlego e entender o que havia acontecido, mas depois cheguei à conclusão que esse ocorrido não fez sentido nenhum. O que ela estava pensando? – “Olha esse cara de olhos vendados dormindo, ele deve estar com muita sede, vou jogar uma garrafa de água gelada em suas mãos, ele vai adorar!”. Vale ressaltar que ela jogou a garrafa, e não a delicadamente colocou em minhas mãos. Cara, a situação foi muito bizarra, eu daria muita risada se isso acontecesse com qualquer outra pessoa.

Ahh, fiquem tranquilos, me certifiquei se a mina de mal com a vida do meu lado não estava rindo, pois se ela estivesse cascando o pico eu enfiaria a água goela a baixo do filho dela para ele morrer afogado. Eu seria ovacionado novamente, mas dessa vez serviriam Dry Martini na conta somente do Capitão, pois o Co-Piloto geralmente tem menos grana que o Capitão, além de que ele já havia torrado seu salário no Whisky para a galera há 5 parágrafos atrás.

Piloto e Co-Piloto brindando a ausência da criança que não parava de chorar.
Piloto e Co-Piloto brindando a ausência da criança que não parava de chorar.

Ofereço aqui um high-five virtual para quem conferiu se são 5 parágrafos mesmo.

Desenvolvido em território americano, o high-five é um cumprimento em que duas pessoas tocam suas mãos simbolizando parceria e amizade.
Desenvolvido em território americano, o high-five é um cumprimento em que duas pessoas tocam suas mãos simbolizando parceria e amizade.

Mas falando sério agora, quem me conhece sabe que adoro fantasiar e aumentar de modo exorbitante as histórias hahaha, mas a Qatar Airways é uma ótima companhia aérea.

As refeições estavam muito boas e fartas (qualidade rara perto das companhias brasileiras e americanas), a poltrona era confortável e os funcionários muito bem treinados (com exceção da aeromoça que tacou a garrafinha de água em mim, é claro).

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